A verdade pesa. Não é como uma pena ao vento, que dança e flutua conforme a brisa. A verdade é um calhau nas costas, uma âncora no peito e uma coisa que arrasta quem a carrega para um sítio onde nem sempre é confortável estar. O Micas aprendeu isso cedo, num inverno de frio ríspido, quando a justiça se tornou para ele mais do que uma palavra bonita nos discursos dos adultos.
Este livro é pequeno, cabe num bolso, mas carrega histórias grandes. Histórias que não se desfazem como tempo, que não se calam por medo e que não aceitam o silêncio como resposta. O Micas, um miúdo de oito anos, tem essa inquietação de quem não sabe viver com uma injustiça atravessada na garganta. Há quem chame teimosia, há quem veja nisso um problema. Mas quem o conhece bem sabe que é outra coisa: um sentido de justiça tão forte que se entranha nos ossos.