Quando abrimos este livro, podemos imaginar o Micas — um miúdo de oito anos, olhar curioso e camisola sempre manchada de aventuras — a apontar para o mundo e a perguntar: “Mas porquê é que agem assim?” Enquanto acompanhares a história dele, que fala de jogos, aviões, tablets e sonhos de criança, encontrarás também um espelho para as coisas que os adultos fazem, às vezes sem se darem conta do efeito que produzem.
O Micas pode apreender, por exemplo, que há pessoas a espalharem falsidades terríveis sobre quem chega de outras terras — dizem até que comem gatos — e com isso tentam transformar gente vulnerável em monstros de contos sombrios. Esta crueldade, que nos faz lembrar velhas estratégias de regimes que perseguiam povos inteiros, não só apaga a humanidade das vítimas, como incentiva vizinhos a trancar portas e a falar em tom de ódio, justificando exclusões e violências que se normalizam a cada repetição. É inevitável perguntar: como se combate um discurso que marca, como alvos, os seres humanos como ameaças? E que papel temos nós, nas nossas escolas e nos nossos jornais, para denunciar essas mentiras?
Podemos ainda ensinar os Micas, filhos deste mundo?