A Sicília no inverno tem um encanto próprio. Os turistas fogem, deixando para trás uma beleza crua que ressoa com a minha alma. Perto de Scopello, as praias ficam desertas, como um reino não reclamado à espera do seu governante. Visitei a casa naquele dia, aquela tão perfeitamente posicionada na beira do penhasco, com vista para a vasta extensão do Mediterrâneo. O sol brincava com as sombras, lançando padrões serenos nas paredes desbotadas e de pastel. Eu queria aquela casa, desesperadamente. Mas tinha aprendido na minha profissão que o desespero é um cheiro facilmente detetável e explorável.
Percorri as divisões com um desinteresse treinado, tocando nas superfícies levemente, mal olhando para a vista que, sem dúvida, se vendeu muitas vezes perante mim. A agente imobiliária, uma mulher mais velha com cabelo tão branco como as ondas espumosas, falava incessantemente sobre as renovações e o valor histórico. Eu acenava distraidamente, calculando, sempre a calcular.
Ao sair para o terraço de pedra, respirei fundo. O ar era uma mistura do spray salgado do mar e a mordida fria do inverno. Por um momento, senti-me em paz, imaginando o meu futuro naquela casa perfeita.
Senti uma...